terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Matriarcado x Patriarcado


por: João Ricardo Keunecke


É de uma tradição afirmar uma idéia argumentando com a ajuda  de parábolas ou metáforas, então, mais abaixo, segue  uma lenda que recolhi em um livro ( não consigo me lembrar qual ), para apoiar o meu ponto de vista..
Penso que nós homens aprendemos a maturidade (entenda-se por participar de maneira rica, altruísta e responsável em nossa sociedade) passando de fase em fase; há a infância onde nos educamos física e mentalmente para as leis morais e éticas, uma baita diversão pois podemos transgredir à vontade; há a juventude onde experimentamos nossa capacidade de assimilação e resposta ao aprendido na infância  (e é bonito como fazemos ajustes nesta fase, não? São algumas mulheres, viagens, ideologias,  amigos e profissões) e então vem o “grande enfrentamento consigo” que é a construção de uma  nova célula social, “ a família”. Acredito que não há  nada mais eficiente como crescimento e inserção social para um individuo, aí temos que viver com o outro sexo  e aprender essas demandas opostas e complementares às nossas. Não é fácil não, é tarefa para poucos que queiram fazer em alto nível, mas bem conduzido o encontro é de uma alegria sem igual. 

A Lenda


Conta uma lenda indígena antiga que a tribo era comandada pelas mulheres. Estas se reuniam em uma grande oca que foi construída pelos homens e lá vivenciavam os mistérios (para os homens) da menstruação, gestação e parto. Os homens abasteciam essa grande oca com tudo que era pedido, mantinham respeitosa distancia da grande oca e ficavam admirados quando de tempos em tempos iam aparecendo de dentro da oca novos indiozinhos; era um poder e tanto destas mágicas mulheres. Certo dia um homem mais curioso rompeu o medo, superou a sacralidade que a grande oca inspirava  e, aproximando-se,  pôde observar o que se passava no interior desse lugar sagrado do matriarcado. Viu então as zombarias e as brincadeiras entre as mulheres com a ignorância dos homens sobre a natureza da fecundação e do nascimento dos indivíduos. Quando, este mais corajoso,  levou a informação do que vira aos outros homens não tardou que uma grande raiva se formasse e, tomados por esse furor, invadiram a grande oca e massacraram todas as mulheres. Demorou um bom tempo para que as crianças meninas poupadas crescessem e se restabelecesse uma nova ordem na tribo, uma ordem patriarcal.

Com essa alegoria podemos resumir um pouco as origens do que foi a  real  passagem histórica do poder do matriarcado para o patriarcado que experimentamos já há alguns séculos, patriarcado esse que instalado foi anulando as mulheres, negando direitos, submetendo e até queimando vivas as que ousassem insistir contra.

Atualmente está em curso uma  mudança,  as mulheres vão conseguindo mostrar a necessidade de uma igualdade entre o masculino e o feminino. Alguns homens não aceitam e pretendem a velha tradição de submissão do feminino, e em cada lugar do mundo esta submissão é mais ou menos terrível.  Já outros homens   querem experimentar essa igualdade e se livram de velhas tradições construindo uma equiparação, tudo muito lento como qualquer ato da humanidade.

Meu ponto de vista pessoal consta de duas   experiências: no primeiro casamento tive dois filhos e vivia uma tradição onde eu trabalhava bastante como diretor comercial  e, como bom provedor, pagava boa escola, babás e tudo que a família precisasse. Tinha poder, mas não tinha a sensação de satisfação real e direta, sempre era indireto, sempre era a mãe que tinha essa intimidade com os membros da família.
Agora neste segundo casamento (quase dois filhos: o segundo estará chegando dentro de 3 meses) busco uma nova forma e me aproximo dos afazeres domésticos com mais intimidade e humildade, fico feliz em  ver minha pequena (Sofia, 3 anos) crescer e brincar, sei que participei pois todos os dias acordo primeiro que minha esposa e preparo além da minha refeição a da pequena (suco e mingau), faço companhia enquanto ela come e aí sim começamos as brincadeiras e depois a escola.

Sei que é real, pois estou ali perto. Claro que depois vou sair para a uma vida social/profissional que também é rica, intensa e motivadora. Então, hoje em dia não tenho tensão em realizar afazeres domésticos e os acrescento ao meu trabalho profissional para a sociedade; não questiono mais,  simplesmente me responsabilizo pela minha felicidade fazendo a minha parte, a parte da mulher é um problema dela, mas aí é outra história.


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João Ricardo Keunecke


Psicoterapeuta Junguiano ( Psicologia Profunda)
51 anos, Pai de Mauricio 21, Marina 18, Sofia 3 e com minha esposa grávidos do Marcos Victor ( esperado para maio 2010)