terça-feira, 31 de maio de 2011

respeito às crianças, e não só aos mais velhos

"respeitar aos mais velhos é respeitar a si mesmo", certo?
faz sentido, é nobre, é moralmente correto, não há o que se discutir quanto a isso.
mas... por que não ouvimos falar com tanta frequência e entusiasmo sobre o respeito às crianças?
eu nunca ouvi falar sobre isso, a não ser em livros sobre educação não-ortodoxos (sobre unschooling, por exemplo).

a nossa sociedade não trata a criança com o devido respeito.
não damos espaço, tempo, poder de escolha, direito de se aborrecer, de errar, de se descontrolar, de regredir, de arriscar. pelo contrário, nós tolhemos e exigimos que a criança cresça logo e seja mais responsável pelos seus atos.
desde cedo exigimos que o filho controle as suas emoções, que tenha hora certa para brincar, para comer, para ouvir música, para sair, para tomar banho; que não grite, que não corra, que não se arrisque, que não suje, que não reclame....

no fim, acabamos por praticar o que talvez seja a pior forma de desrespeito, que é lhes tirar a liberdade.
no geral, impomos uma educação meio "tolerância zero" afim de evitar dores de cabeça e jogar as responsabilidades da vida logo no colo das crianças.
e cobramos os resultados em curto prazo também, é claro: ir pra escola cedo, aprender a falar e a ler logo, desfraldar o quanto antes, avisar o que quer assim que aprende a falar, parar de fazer xixi na cama, etc etc etc.

considero isso um desrespeito grave, uma vez que a criança perde, aos poucos, a sua natureza curiosa, instigante, questionadora, criativa e com imenso potencial.
como não respeitamos o seu tempo e as suas escolhas, ela passa a repetir os padrões que a gente espera e entra logo no esquema do qual fazemos parte.
e nada disso é novo, pelo contrário.
isso não é um mal da nossa sociedade corrida e cheia de disputas sociais, pois em épocas medievais representavam as crianças em pinturas como se elas fossem "mini-adultos", já que era assim que olhavam para ela.
não se reconhecia (ou não se compreendia) a infância: a partir do momento que deixasse de depender exclusivamente da mãe, a criança já ingressava no universo adulto.
hoje, não temos essa visão  - ou falta de visão - tão deturpada sobre a infância e já reconhecemos a sua importância como etapa do desenvolvimento humano, no entanto, a cobrança social para que a criança se torne precocemente responsável não morreu.

apesar de termos evoluído em relação a escolhas pessoais, saindo dos grandes grupos (mass) e passando para os nichos (class), em alguns casos ainda somos maníacos por padrões e vivemos nos comparando com os demais e fazendo as mesmas escolhas. acredito que esse seja o problema na hora de educar um filho ou uma filha: não temos coragem de fazer diferente, de questionar, de mudar o rumo, de não querer fazer parte.
a consequência é o que eu já disse acima: tiramos a liberdade de escolha e o ritmo dos nossos filhos, pois exigimos que toda criança siga uma linha de desenvolvimento parecida, padronizada.


porém, quando damos espaço para a criança se expressar livremente e fazer suas escolhas (sem pressões), nos deparamos com exemplos maravilhosos do potencial infantil, como esse aqui:


respeitar o idoso é uma questão de moral.
respeitar a criança (e o seu ritmo) é respeitar o futuro, é respeitar o direito de mudança, de escolha, de quebrar paradigmas que nós impomos.
para mim, o respeito mais importante é o respeito à criança.

terça-feira, 24 de maio de 2011

a lei do mais forte nos torna fracos

educação se faz com amor, não com dor.
contudo, hoje é fácil vivenciar ou presenciar alguma experiência baseada na lei do mais forte, onde alguém simplesmente desiste de qualquer tipo de argumento ou de negociação e apela para a força, para a violência, seja ela física ou moral (mine is bigger than yours).

socialmente, o problema maior é em como esse exemplo de atitude violenta é passado para as crianças, que muitas vezes vem (e sofrem com) seus próprios pais sendo brutos e amedrontadores, se esquecendo da razão e do carinho para resolver impasses.
bater não resolve o problema
"não quer tomar banho? vai apanhar", "não vai parar de fazer bagunça? vai apanhar", "não vai fazer o que te pedi? vou gritar com você até fazer você chorar, então".

essa abordagem acarreta em consequencias sérias para a criança, para a família e para a sociedade, direta e indiretamente.
acredito que a lei do mais forte, no geral, seja a responsável por boa parte da onda de violência que continua a assolar o país, as escolas, a vida em união, em comunidade. mas, veja bem, não estou dizendo que a criminalidade e a violência acontecem por conta única e exclusivamente da lei do mais forte, pois há variáveis bem mais sérias e complicadas envolvidas nesses temas; no entanto, acredito fortemente que os exemplos de uso de força e coerção aos quais submetemos diariamente as crianças só pioram o cenário.
a única mensagem clara que é passada com essa atitude é a de que vence o mais forte, de que usar a força física para conseguir o que se quer em detrimento da razão, da negociação, da conversa é algo válido e que podemos sempre abusar da nossa força contra alguém mais fraco.

vejo que muita gente, muitos pais e mães confundem educar com bater, educação com moral, aprendizado com obediência, respeito com disciplina e medo.
nada contra a disciplina, não pense isso. meu problema é com a rigidez na hora de educar, como se o ensino e o aprendizado seguissem um padrão lógico e sequêncial a ponto de você fazer uma linha de produção ou um esquema militar, rígido, firme, opressivo.
eu acredito na educação com amor, com tempo, com disposição, com conversa, com olho no olho ao invés da palmada, com pedidos sinceros no lugar dos gritos intimidantes.

afinal, independente da intenção que se tem com uma atitude violenta (seja ela física ou moral), o que fica é um exemplo grotesco e bárbaro de resolver os conflitos.
e, quanto mais continuarmos a pregar um esquema violento e opressivo de educação, mais teremos exemplos violentos e opressivos invadindo o nosso cotidiano.

educação e aprendizado são orgânicos, não mecânicos.
educação se faz com amor, não com dor.