terça-feira, 22 de dezembro de 2009

consumo e o papai noel que entalou na chaminé



hoje eu tive que ir ao shopping comprar um presente de amigo secreto. é claro que estava completamente lotado. mas isso eu já esperava, foi um detalhe que não me chamou tanto a atenção.
mas uma outra coisa me causou espanto e um certo desconforto: o modo como as crianças estão cada vez mais ligadas em consumo.

e, pelo o que tenho visto, é um desejo de consumir apenas. somente consumo, ponto.
lembra daquela frase em inglês "ashes to ashes", "das cinzas as cinzas"? pois é, do consumo ao... consumo.
vejo crianças que imploram por um brinquedo num dia e, dois dias depois de ganhá-lo, não dão a menor bola para ele, já que agora ela quer na verdade aquela outra coisa que passou na tv ou que o amiguinho tal está usando e... pronto, lá vai a criança com foco no consumo mais uma vez...

no shopping eu vi uma cena que me deixou curioso e ao mesmo tempo incomodado.
lá estava eu caminhando quando vejo uma mãe (siliconada, com as unhas grandes, um vestido curto e uma sandália com um salto maior que a sua própria perna) com um filho de mais ou menos uns quatro anos travando uma verdadeira batalha: os dois em frente a uma famosa loja de brinquedos, ele chorando e gritando para todos ouvirem que queria entrar pra ganhar algum brinquedo, e a mãe tentando tirá-lo dali, puxando-o para o sentido contrário dizendo que "não é hoje que o papai noel vai te dar presente. vamo embora!".
e assim foi por uns 10 minutos (to falando sério).

óbvio que os dois saíram tristes e frustrados do passeio.
o menino por achar que a mãe é uma malfeitora por não ter dado um presente novo a ele.
a mãe por se sentir uma incompetente pois não conseguiu lidar com a situação e também porque não cedeu a vontade do garoto.

andei por outros andares e fiquei prestando atenção nas crianças.
juro que só vi um menino feliz. todas as outras crianças estavam com a cara fechada, olhando feio para os pais, brigando, resmungando alguma coisa como "que saco, eu só queria tal coisa...".
olhares perdidos entre as vitrines, quase zero de interação com os pais (a não ser para reclamar, xingar, receber  broncas e alguns puxões para andarem logo).
triste, bastante triste.

ok, quem tem filho grandinho pode pensar que eu estou sendo ingênuo e que "um dia eu chego lá" e vou ver o que é bom pra tosse, que meus filhos também serão assim.
pode até ser, mas uma coisa eu tenho bem claro em minha mente: eu vou manter meus filhos o mais distante possível dessa onda de consumo que tem assolado a infância dos nossos pequenos.
ah, se vou!

ao invés da velha abordagem "se você se comportar bem, no final do ano o papai noel vai te dar um presente", eu vou me esforçar junto com a nanã para buscar alternativas criativas e mais carinhosas como "que tal no natal a gente fazer uma viagem gostosa e ficarmos todos juntos por um tempão?", "nesse natal a gente vai visitar o zoológico", ou algo assim.

nunca concordei com essa história de que todo natal tem presente, tem papai noel trazendo "recompensas" pelo o que você fez ou deixou de fazer.
lembro de meus pais não criando uma fantasia exagerada a respeito do papai noel.
nunca ninguém da família se vestiu com as roupas do bom velhinho, nunca esperei nenhum presente dele (até onde me lembre), porque eu sabia que papai noel não existia e que se eu fosse ganhar um presente quem o daria seriam meus pais.
simples assim.
justo assim.
sem frustrações, sem pedidos exagerados.
e a na minha infância e na da minha irmã não faltava fantasia por conta disso. a gente brincava muito, ouvíamos historinhas, tínhamos nossos livros de contos de fadas, criávamos nossos mundos imaginários, etc, etc.

a nanã e eu ainda não decidimos se vamos falar que papai noel existe ou não, mas já é certo que não concordo em associar a imagem dele ao recebimento de presentes e mais presentes.
acho que isso, cedo ou tarde, pode se tornar um tiro que uma hora vai sair pela culatra.
e o resultado é decepção para os dois lados.

pra encerrar, nesse ano eu vi dois documentários sobre como o consumo está sendo tão bombardeado na cabeçinha tão inocente das crianças, que cada vez mais cedo passam a saber o nome das marcas e dos brinquedos e roupas da moda e cada vez mais tarde passam a saber o nome de frutas, legumes e boas histórias da literatura infantil.
eu acho uma pena.

é uma pena porque as crianças deixam de ser crianças cada vez mais cedo (para lá na frente se tornarem adultos bobos e infantilizados, que falam com voz de criança de propósito entre si, se tornam depressivos e emocionalmente dependentes por não terem tido uma infância plena e prolongada).
e também é uma pena pois a mídia voltada a criança pinta os pais como os vilões que não querem dar a ela seus objetos de desejo.
e aí o impasse está feito, o circo está armado e as cenas que eu vi hoje no shopping se tornam mais e mais comuns.

concordo que vivemos num mundo capitalista e eu mesmo assumo que sou capitalista sim.
mas eu não gosto do exagero que o consumo traz para a vida das pessoas.
desde pequeno aprendi a esperar para ter minhas coisas, a ouvir um "não" e saber respeitar essa palavra.
a ouvir um "sim" e dar um baita valor a essa outra, pois afinal eu tive que esperar a tão desejada palavrinha mágica chegar após pedir por algum presente.

na minha modesta opinião, acho que os pais devem se esforçar para passar mais tempo com suas crianças buscando formas alternativas de diversão, e não apenas dar coisas materiais para que elas se entretenham sozinhas ou entre si.
sentar na grama, brincar com barro, tomar banho de chuva, fazer sucos diferentes, visitar parques, assistir a filmes juntos.
há tanta coisa que pode entrar no lugar de "toma aqui seu brinquedo"!

para quem se interessar, seguem os nomes e os links para os vídeos que citei.
é de ficar revoltado com o que a mídia e as empresas vem fazendo para alcançar o público menor.

vídeo: criança, a alma do negócio
vídeo: consuming kids (legendado)

até a próxima semana.

6 comentários:

  1. Excelente texto, Felipe!!!
    Acho que a Lê é uma das poucas crianças que, quando vai em algum lugar, não irrita pra comprar brinquedos, nem nada.

    O único "problema" é levá-la ao mercado, ela quer trazer tudo quanto é fruta, verdura e legume pra casa hehehehehehe.

    Passar um tempo com os filhos é muito mais importante, pros dois lados, do que simplesmente enchê-lo de brinquedos e largá-lo de lado.

    Com certeza não é isso que quero pros meus filhos.
    Bjos e feliz Natal!

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  2. querido, esse assunto é tão interessante pra se alongar....vamos ter que marcar um almocinho, um café...

    só pra começar, eu achava que não tinha que falar de papai noel, mas eu e Deri andamos conversando isso e acho importante a fantasia da criança, não quero deixá-lo sem essa imaginação toda, mas não associar a presentes e compras, mas fantasiar esse personagem e essa época a uma magia de renovação acho válido.

    vamos falando

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  3. Ai que lindo ler um paterno!!!!
    Vc bem que podia passar um tempinho com meu digníssimo, e colocar algumas idéias "maternas/paternas" na linda cabecinha do meu oginho!!!!!
    Essa história do natal dá um pano pra manga...
    Minha Laura já sabe que existe um papai noel, que ela chama de "él" e aponta todos que vê pelas ruas, casas, árvores, os mais minúsculos ela encontra e aponta toda feliz!
    Nós não decidimos ainda se vamos falar pra ela que esse senhor trás presentes... mesmo pq nós não demos nada pra ela "de natal". Compramos o que precisa, o que achamos necessário, e o que ela vê em alguma loja e não esquece...
    E tem a questão da escola, como a escola dela é alemã, eles não tem a figura do papai noel, mas do advento, do nikolaus, é um pouco diferente.
    Adorei seu espaço!
    Bjo pros 3!
    Cath da Laura

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  4. As vezes as coisas não são tão simples como dizer ou não se o papai noel existe, meu filho mais velho esta com 2 anos, e nunca falamos de papai noel, mas esse ano ele viu, perguntou, amou, aproveitou um monte o tal do papai noel, e nós não quizemos desfazer esta fantasia, mas não ligamos o papai noel a presentes, infelizmnte ou não no natal ele ganhou milhares de presentes e associou sozinho ao papai noel, mas como passamos com a familia temos que relevar algumas coisas.Nós, eu e meu marido sempre fazemos os presentes, por exemplo o Pedro Cirilo faz o do pai dele,e mais p/ frente queremos fazer os deles tambem. Mas que é lindo ver a fantasia ele fala que escutou o papai noel batendo na porta e ele saiu voando cheio de luzinha e ele deu tchau p/ papai noel, e sem ter nenhum papai noel a vista rsrs!
    Acho muito importante esse lance de publicidade isso sim vc tem que deixar teu filho bem longe, longe da televisão e desses comerciais abusivos! Só assim ele vai ser o garoto que sorri no shopping!
    Beijos

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  5. Eu adoro seus textos, Fê!
    e esse então... achei o máximo.

    Parabéns!!

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  6. Oi, Felipe!

    Não lembro de Papai Noel na minha vida até que minha irmã e eu ganhamos um presente realmente grande, diferente de qualquer outro a que estávamos acostumadas, e muito inesperado, porque meus pais conseguiram deixá-lo em nossos quartos à noite sem que percebêssemos. Foi uma loucura pela manhã e claro que acreditamos quando eles disseram ter sido obra do Papai Noel, que ele atravessava paredes e esse tipo de coisa. :D Mas em todos os outros anos, anteriores e posteriores a esse, sabíamos que o presente de Natal vinha de nossos pais, escolhidos por nós.

    O que me incomoda nessa história de Papai Noel é que, por mais que a musiquinha diga o contrário, ele não vem pra todo mundo. E o que dizer pra criança? Papai Noel não é justo.

    No fundo, acho que a concepção de "presente" ligada ao consumo de alguma coisa é que atrapalha. João e eu passamos este Natal pensando no que vamos construir para o próximo, com nosso menino por aqui. Me agrada a idéia de "trocar presentes no aniversário de Jesus", sem ligar o fato à religião ou Igreja - afinal, inicialmente não é isso o Natal?

    Beijos pra você, pra Fê e pro Tito!

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