terça-feira, 2 de março de 2010

o copo vazio e o copo cheio da nossa mídia


há um fenômeno engraçado aqui no brasil relacionado a mídia. via de regra, se passou na tv ou algum famoso fez, é porque é legal, é bacana, e é verídico. isso acontece com vários assuntos e temas e, pelo o que tudo indica, assim continuará.

até alguns meses atrás minha esposa e eu éramos malucos, bichos-grilo, e até irresponsáveis (!?) porque escolhemos fazer um parto em casa, natural. eis que minha amiga modelo gisele (sim, a büdchen) resolve ter um parto natural domiciliar e na água e do nada a coisa vira cool, interessante.

não é engraçado? depois que a matéria sobre o parto dela passou no fantástico ninguém mais me falou que a gente era doido por querer um parto em casa. as reações passaram para "ah! que legal! igual ao da gisele, né?".
(na verdade não, ela é que teve um parto igual ao nosso!)
mas não quero discorrer sobre isso. quero apenas lamentar por nós ainda sermos tão influenciados pela mídia, seja para coisas boas ou para coisas ruins, e também comemorar pelo espaço crescente (graças a alguns famosos, principalmente) que temas como aleitamento exclusivo por seis meses e partos naturais e humanizados (domiciliares ou não) estão tendo em nossos meios de comunicação de massa e a repercussão que esses temas vem ganhando.

vendo o copo meio vazio, porém, as matérias e reportagens que vi até então não são de todo assim tão boas.
na própria matéria sobre o parto da modelo que passou no fantástico fala-se muito mais sobre o fato de o bebê ter nascido na banheira que sobre o parto ter sido em casa, ter sido natural, acompanhado por uma parteira! a matéria passou longe de comparar os riscos (tanto para mãe como para o bebê) que as intervenções médicas de rotina em hospitais oferecem com os eventuais riscos (que são menores) de um parto humanizado, natural e domiciliar.

depois, creio que na semana seguinte, teve matéria especial no programa da silvia popovic, que mostrou claramente uma apresentadora despreparada e que não sabia quase nada sobre o tema: partos naturais.
no mesmo programa tivemos a médica obstetra humanizada betina bittar aproveitando muito pouco a chance que teve de falar mais sobre o assunto que ela domina e, pra piorar, um médico defensor de partos exclusivamente em hospitais distorcendo alguns fatos e mostrando-se um tanto quanto preconceituoso com as parteiras ao dizer que a parteira que apareceu numa reportagem especial provavelmente não tinha formação médica ou preparação "formal" para exercer suas funções.
pra desgosto dele, a senhora parteira em questão não só é graduada como também tem mestrado, doutorado e pós-doutorado sobre o assunto!

vendo o copo meio cheio, há uma onda de conscientização que cresce aos poucos, inclusive acerca de temas relacionados a saúde, que me leva a crer que as pessoas passarão a se questionar mais e buscarão mais informações coerentes e embasadas em dados científicos antes de tomar uma decisão tão importante como o tipo de um parto.

para quem está para parir ou pensa em ter mais filhos, vale a pena conferir a boa matéria feita pela pais&filhos, que mostra que "mais de 70% das brasileiras querem fazer parto normal, mas só 10% conseguem", sendo as cesarianas desnecessárias o maior agravante para esse cenário.

até semana que vem.

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imagem: www.zazzle.com.br

4 comentários:

  1. Acho importante essa mudança da mídia, finalmente está fazendo algo em pról da sociedade.
    Já que somos assim tão influenciáveis acho válido utilizar a ferramenta dessa forma, considerando que já vem sido tão mal utilizada.

    Dia desses na rua com a Cecília no sling, um grupinho de mulheres me parou pra ver de perto o carregador de bebê que passou na Ana Maria Braga. Comentaram sobre os benefícios, acharam uma graça e uma outra disse que houve uma matéria sobre os banhos de balde, comentei que todos os banhos da Cecília haviam sido assim e uma delas me disse que minha filha era um bebê privilegiado. Fiquei muito feliz, sei que é.

    Tomara que mais programas tomem essa iniciativa consciente e aí quem sabe a humanidade acorde mais rápido, nénão?

    Ótimo post!
    Beijos!

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  2. Espero que haja mais copo meio cheio, que meio vazio, na mídia.

    Precisamos ser vistos como pessoas que se preocupam com a saúde, bem-estar, tanto nosso como dos nossos filhos, e não como aqueles doidos que andam de sling, amamentam filho com 2 anos, usam fralda de peno e tem parto natural.

    Adorei o post, Fe!
    Bjos

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  3. Eu lamento que a ênfase da mídia tenha sido "a gisele teve um parto na água". A água apenas entra como coadjuvante de um parto DOMICILIAR e COM PARTEIRA, que foi o que ela escolheu para seu momento de dar à luz. Na hora do expulsivo ela resolveu ficar na banheira, mas poderia ter sido na cama, na banqueta de parto, de cócoras na sala de estar...
    Escolha sábia essa, da Gisele. Ser protagonista no nascimento do seu filho é maravilhoso.
    Mil beijos.

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  4. Cada um deve ser responsável por suas escolhas. No quesito, parto, envolve mais uma vida, a do nenen.

    Vim ao mundo, via parto domiciliar e não foi uma experiencia boa pra minha mãe. Eu carrego até hoje, essa carga.

    Optei por outra forma de trazer meus filhos ao mundo, totalmente condenada por muitos de vcs mas foi uma escolha e assim como vcs, pesei os riscos e os beneficios.

    abraços

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